Quase Presença
Sobre a série Quase Presença
Andrea Portela
5/7/20252 min read
Sobre a séria Quase Presença
Meu trabalho explora os processos pictóricos através da construção e desconstrução das imagens. Estou sempre aberta ao acaso, embora exista um ponto de partida.
O mistério das transparências ou das pinceladas desconectadas estão entre os recursos utilizados que, para mim, representam de forma eficaz o afastamento da identidade. Retratam momentos em que o pensamento viaja e nos desconecta daquilo que é vivido, ou quando o escapismo se torna uma maneira de resistir aos impactos de um mundo de desafios e inseguranças, como fuga à opressão da vida moderna
As imagens escolhidas lembram momentos cotidianos em que, mesmo estando presentes, mergulhamos em devaneio, não ouvimos e nem somos notados. Como na solidão vivida em meio às multidões. Ou quando nos apresentamos como um personagem de nós mesmos, submersos em uma realidade paralela ou virtual.
A arte é fundamental tanto como exercício da sensibilidade quanto para provocar reflexões. Por isso, os trabalhos reunidos na série Quase presença pretendem, além da exploração do imaginário livre, provocar interpretações e nos colocar diante de algumas questões que fazem parte do cotidiano caótico da vida contemporânea. Portanto, tem como objetivos:
Permitir momentos de fruição imaginativa;
Sensibilizar os olhares a respeito de algumas práticas contemporâneas;
Visibilizar momentos como os de afastamento, ausência, distanciamento, solidão, dentre outros, como modos de fuga e contraponto aos impactos de opressão e superexposição da vida moderna. Não atoa a invisibilidade vem sendo apontada como o novo luxo, a tendência mais atual.
Os excessos de desejo provocados no capitalismo tardio nos tornam fartos de tudo e despertariam um desejo de fuga ou de suspensão do tempo. Embora esses momentos sejam próprios da natureza humana na busca de equilíbrio, como pequenos escapismos gerados pelo silêncio, pela música, no pensamento solto, na concentração, pela própria arte, quando nos desligamos do mundo de algum modo. Existem muitas questões e até enfermidades que apontam para o desprendimento de si, entre sentimentos causados na solidão, nas ausências, na discrição, nas distâncias, como reações a condições geradas pelo cotidiano de superexposição e coerções das identidades que nos fazem querer fugir do momento presente, seja para um futuro imaginário ou de volta ao útero.
Como nos apresentamos? Estamos nos olhando ou nos escutando de verdade? Como dialogamos ou consumimos nosso tempo? Como encaramos a realidade? São muitas questões possíveis.
Acredito que a arte pode nos despertar para inúmeras reflexões sobre como participarmos da vida mais plenamente e marcarmos nossa presença no mundo.








