Quando começa o processo criativo?
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Andrea Portela
3/6/2025


Quando começa o processo criativo?
O artista é o resultado de sua poética, sendo que todo processo criativo é previamente alimentado pela vivência cotidiana e pela elaboração de novas formas de ver e pensar. Como ele explora o seu universo particular e o mundo ao redor? Como se prepara, estuda e investiga referências?
Em relação ao meu processo criativo, duas referências muito me ensinam, Fayga Ostrower e Pablo Picasso. Fayga, pela forma de compreender o processo de criação em toda sua complexidade. E Picasso, pelo modelo de trabalho sempre em processo, sinônimo de perseverança e liberdade. Ambos, nos mostram a experiencia da criação de forma concreta e conectada aos demais fatos da vida, seja social, política ou cultural.
Estou sempre atenta ao que se passa ao meu redor. Por vezes, um esboço ou um simples rabisco que realizo sem pensar acaba me despertando a atenção. Em seguida, começo a examinar e a elaborar o traço. Observar e estabelecer identificações. O passo seguinte é experimentar e ampliar. Não há regras. Posso começar diretamente na tela, ou antes, em uma miniatura no papel. Para dar alguma ordem ao caos de minha mesa de trabalho, utilizo diversos cadernos de criação, em diferentes tamanhos. Alguns viajam comigo, outros não saem nunca do meu refúgio criativo.
Pode acontecer de ser totalmente diferente. Pensar sobre uma questão que me inquieta e a transformar em imagem é muito frequente. Então, pesquiso, levando informações, ideias, imagens, faço sobreposições...
Há sempre uma lacuna inexplicável entre a vida e aquilo que nos move. Ou o que move nossas mãos, que move nossos desejos por criar. Nesse aspecto, a arte é quase um mistério que nos seduz e nos expande , externando nossa expressão única e pessoal.
Por mais que eu elabore um trabalho antes de iniciá-lo, nunca sei previamente o resultado efetivo, pois estou sempre a ouvir o que o processo me diz. Às vezes, tenho um ímpeto de seguir em frente e o trabalho quase termina naquele mesmo dia. Nesse momento, aguardo algum tempo, horas ou dias, para analisar um pouco mais ou para compreender o processo antes de finalizá-lo.
Outras vezes, demoro dias - e até meses - porque as etapas se tornam questões difíceis. Como trabalho com camadas, também preciso aguardar a secagem. Tanto nos processos mais rápidos como nos mais longos, há sempre uma espécie de sofrimento a respeito dos momentos de decisão. O que trocar, suprimir, acrescentar ? E, finalmente, a maior das angústias: saber a hora de parar...
